Texto apresentado na aula do dia 17/04/12
Por Eugésio Maciel e Yuri Vinicius Assen da Silva
Pensando
biologicamente, existe apenas um cromossomo dentre os quarenta e seis que
difere as mulheres dos homens. Há
aqueles que concordam que homens e mulheres são diferentes de seus corpos, de
sua constituição psicológica e do papel que ocupam na sociedade. No entanto a
Antropologia vem desconstruindo muitas de nossas idéias sobre os sexos.
O cromossomo é formado por vários
genes, dessa forma o que separa homens de mulheres é a forma que estes genes
estão arranjados. Assim para a Biologia essa combinação permite os corpos
diferenciados, e além da caracterização genética e anatômica, há também uma diferença
hormonal.
Se a Biologia estabelece uma
diferença física, a interpretação do senso comum se apoia em uma diferença de
comportamento e de papéis, ou seja, mulheres que transitam entre a sensualidade
e a maternidade. Já os homens desempenham o papel de fecundar e prover o
sustento para a mulher e para seus descendentes.
É realidade hoje que as funções para
os dois sexos mudaram, boa parte das mulheres integra o mercado de trabalho, e
muitos dos homens realizam funções domésticas e participam da criação dos filhos.
Há ainda certo estranhamento, por exemplo, com mulheres que abrem mão da
maternidade e da mesma forma um homem sustentado por sua companheira.
A Antropologia através de estudos
das sociedades ( ditas sociedades primitivas) sugere uma nova interpretação ao
negar a idéia de que homens e mulheres são diferentes em relação à ciência e o
senso comum.
Pierre Clastres (antropólogo
francês) escreveu o livro A Sociedade
contra o Estado, o capítulo “O Arco e o Cesto” desta obra apresenta a
cultura dos Guaiaquis. Nesta
sociedade as tarefas eram divididas entre homens e mulheres, assim como a
nossa. O diferente nessa sociedade é a prática da poliandria (união da mulher
com mais de um marido). As mulheres mesmo casadas podiam ter relacionamentos
com moços solteiros e transformá-los em maridos. Os primeiros maridos não
tinham escolhas, se abandonassem suas esposas seriam condenados a permanecerem
só, pois a tribo carecia de mulheres disponíveis, havia quase o dobro de homens
em relação às mulheres.
De qualquer maneira, o modelo
matrimonial nessa tribo mostra que dentre as infinitas possibilidades de
culturas, os Guaiaquis são uma mostra
de o arranjo tecido pela nossa própria sociedade ao que diz respeito às
relações entre homens e mulheres está longe de ser o único possível.
Margaret Mead (antropóloga) em seu
livro Sexo e Temperamento questiona
os papéis sexuais ao apresentar três sociedade na Nova Guiné. A autora utilizou
como base os padrões norte-americanos, ou seja, o comportamento feminino
caracterizado por ser maternal, cooperativo, não agressivo, já o comportamento
masculino seria contrário a essa caracterização. As três tribos estudadas pela
a autora apresentam padrões de comportamento entre homens e mulheres
diferentes. Na tribo Arapesh, os
homens e as mulheres revelavam uma personalidade que seria considerada feminina
na sociedade norte-americana. Já na tribo Mundugumor,
os integrantes eram homens e mulheres agressivos e positivamente sexuados, apresentando
o mínimo de aspectos carinhosos e maternais em sua personalidade, apresentando
uma conduta que só seria encontrado em um homem norte-americano violento e
indisciplinado. A terceira tribo, Tchambulli,
caracteriza-se por uma diferenciação entre os sexos e uma clara inversão das
expectativas de temperamento da sociedade norte-americana, ou seja, a mulher é
“o parceiro dirigente, dominador e impessoal, e o homem a pessoa menos
responsável e emocionalmente dependente”.[1]
Autora mostra dessa forma que é
possível encontrar invertidos os comportamentos e que as culturas não
reconheçam uma diferença de temperamento entre homens e mulheres, ou seja, não
nos resta considerar tais aspectos de comportamentos ligados ao sexo, uma vez
que a natureza humana é maleável, respondendo a condições culturais constantes.
O trabalho de Marcel Mauss, As técnicas do corpo, enfatiza-se a
idéia da qual a cultura treina o corpo em seus mínimos detalhes, desde
movimentos, posturas e trejeitos corporais. O seja, um comportamento que
independe da natureza biológica, mas um treino corporal a partir de uma
orientação da cultura vigente. Dentre as técnicas do corpo estariam atos
simples como sentar, dormir, falar, ficar de pé, agachar-se, nadar, respirar,
etc.
Esse argumento é interessante no que
se refere às diferenças entre homens e mulheres, pois muitas das
características corporais que distinguem os sexos seriam constituídas a partir
de um treino social do corpo. A delicadeza feminina, a postura imponente dos
homens, o jeito discreto de sentar das mulheres, o largar-se confortavelmente
no sofá, tipicamente dos homens, ou então a maneira sensual feminina de andar
movimentando os quadris são todos exemplos das chamadas técnicas do corpo
proposta por Mauss.
A Antropologia através de Clastres,
Mead e Mauss, aponta a idéia de que os papéis destinados a homens e mulheres
não são explicados por uma diferença inscrita na natureza de seus corpos, ainda
que seja biologicamente diferentes, a anatomia não explicariam as inúmeras
outras diferenciações sociais entre os sexos, sejam elas de hierarquia, de
status, de poder, de posição na divisão do trabalho, de personalidade, de
comportamento e nem mesmo de seus trejeitos corporais.
Essa interpretação não nega a
diferença anatômica, mas afirma que a Biologia nada explica o que diz respeito
à vida social. Tal argumento é embasado na idéia de a natureza dos corpos é
interpretada pela cultura que, por sua vez, origina inúmeros significados que
ultrapassa as diferenças corporais.
O movimento feminista utilizou dos
estudos antropológicos para então questionar fatos vistos como biológicos, como
a situação de inferioridade da mulher a por sua vez a sujeição feminina ao poder
simbólico masculino. Isso permitiu a discussão na esfera do movimento social,
ou seja, os papéis previamente demarcados exercidos por homens e mulheres
dentro da sociedade.
“Ninguém nasce mulher: torna-se
mulher. Nenhum destino biológico, psíquico, econômico define a forma que a
fêmea humana assume no seio da sociedade; é o conjunto da civilização que
elabora esse produto intermediário entre o macho e o castrado que qualificam de
feminino”.[2]
Mas
o que é tornar-se mulher? Os seres humanos nascem machos ou fêmeas, e a partir
de sua educação, tornam-se homens ou mulheres. Tornar-se homem ou mulher não é
uma transição natural, construída por hormônios, é uma questão social. Garotos
e garotas ao nascerem têm uma educação diferenciada, são criados para
desempenharem um determinado papel social. Exemplificando
a situação, os meninos são ensinados a gostarem de carros, de filmes de ação e
de atores com estereótipo masculino bem acentuado. Chorar? Não são emoções características dos homens. Enquanto
as meninas que ganham utensílios para a cozinha de brinquedo, bonecas para
fingirem serem mães, sonham em serem as princesas dos filmes da Disney, ou
seja, são ensinadas a serem frágeis e delicadas com o ensinamento de um
espírito materno precoce a ponto de subjugar as várias manifestações de
personalidade de cada um(a).
Dessa
forma, depois de todo esse processo de aprendizagem na infância, é de se
esperar que realmente as mulheres tenham “jeito” para serem mães, donas do lar,
e assim condicionar a sua felicidade à de um homem (príncipe). Portanto, o
gênero é a construção social do masculino e do feminino, isto é, o papel
atribuído a homens e mulheres é construído, é social, cultural, passível de
mudança, o macho humano pode assumir o gênero feminino e a fêmea humana pode
assumir o gênero masculino, além da possibilidade de assumir algum outro que
não seja o masculino/feminino, é simplesmente opcional, uma escolha.